Leia JOÃO 14.16 a 26

É de conhecimento geral entre os cristãos, a doutrina que define o Espírito Santo como a terceira pessoa da Trindade. Entretanto, quando se fala do Espírito Santo, nem todos têm uma compreensão clara sobre sua natureza, lugar de honra e atuação.

É possível que, de forma inconsciente ou ingênua, devido à falta de uma teologia consistente, muitos desenvolvam ideias e atitudes equivocadas em relação à pessoa do Espírito Santo. É comum ver pessoas agindo como se o Espírito estivesse a nosso serviço; como se ele pudesse ser manipulado; como se ele dependesse do homem para se manifestar. Tais pessoas se esquecem da afirmação bíblica: “o vento sopra onde quer”, numa explícita alusão ao agir do Espírito Santo (Jo 3.8).

O Espírito Santo está a serviço do Pai e do Filho. A tentativa de manipular o Espírito pode se configurar como uma forma de resistência à sua obra, que é livre, criativa, dinâmica e, por vezes, surpreendente.

Uma compreensão bíblica e equilibrada a respeito da doutrina do Espírito Santo é de fundamental importância para uma vida cristã saudável e aprovada por Deus. Consideremos então:

1.   O Espírito Santo é um Ser Divino

O Espírito Santo integra a Santíssima Trindade, sendo da mesma essência do Pai e do Filho. Pode-se afirmar – e devemos fazê-lo com reverência e temor –, que o Espírito Santo é Deus! O papel atribuído a ele por Jesus, conforme o texto do Evangelho de João, é um papel divino. A divindade do Espírito é confirmada também pelo fato de que a Bíblia atribui a ele obras que somente Deus tem poder para realizar (Jó 33.4; Sl 104.30; Rm 8.11; I Co 6.11; I Co 2.8-11). Atributos incomunicáveis do Pai e do Filho pertencem igualmente ao Espírito. Por exemplo: eternidade (Hb 9.14), santidade e verdade (Ap 3.7,13), onipotência (Rm 15.19), onipresença (Sl 139.7) e onisciência (I Co 2.9-11).

É inevitável a conclusão de que o Espírito Santo está em condições de igualdade em relação às outras pessoas da Trindade. Isso se verifica de maneira inequívoca na Criação (Gn 1.1,2), na obra da Redenção (II Ts 2.13,14; Tt 3.4-6; I Jo 5.6-8), no Batismo (Mt 28.19; Ef 1.13,14) e na Bênção Apostólica (II Co 13.13).

Conforme a definição do Catecismo Maior de Westminster (Questão nº 9), as três pessoas da Trindade são “um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais”.

2.   O Espírito Santo é um Ser pessoal

Disse Jesus: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador… (v.16); “…mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas…” (v.26). Percebe-se com toda clareza a distinção entre o Espírito e Cristo e entre o Espírito e o Pai. Fica evidente a pessoalidade de cada um.

O ensino bíblico de que o Espírito é um ser pessoal, e não simplesmente uma força, uma energia, pode ser visto em diversas passagens que lhe atribuem qualidades próprias de uma pessoa, a saber: pensamento, sentimento, vontade consciência própria, liberdade e direção própria. Vejamos algumas dessas passagens bíblicas (I Co 2.10,11; I Co 12.11,12; Jo 14.26; Rm 8.27; 15.30; Ef 4.30). Há ainda outros textos bíblicos que falam do Espírito como sendo uma pessoa. Isaías 63.10, por exemplo, faz referência explícita a ele como sendo uma pessoa: “Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles”.

3.  O Espírito Santo age de maneira dinâmica no mundo

Pode-se afirmar, com base na Bíblia, que o Espírito age no mundo desde antes da Criação. Sua maneira de atuar é dinâmica: antecede, permeia e transcende a história (Gn 1.2, 26; 2.7; 6.3; Jó 33.4; Sl 104.30). Segundo a Confissão de Fé de Westminster, “Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, visíveis ou invisíveis (Cap. IV, parágrafo. 1º).

O Espírito nunca deixou de estar presente no mundo. Entretanto, afirma Jesus, “o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.

4.  O Espírito Santo age de maneira especial na vida do crente e na igreja

Conforme o relato do texto de João 14, Jesus garantiu aos discípulos que o Espírito Santo viria para cumprir uma missão: habitar neles, acompanhá-los, consolá-los e ensiná-los. As orientações sobre a ação do Espírito Santo na vida do crente são abundantes na Escritura. Ele age na regeneração (Tt 3.4-6), age na santificação (Gl 5.16), age como Intercessor (Rm 8.26,27), age como Consolador (Jo 14.16), age como Instruidor (Jo 14.26), age na capacitação dos crentes (I Co 12.4-13; At 1.8).

Segundo o teólogo Herman Bavinck, “A Escritura estabelece, além de qualquer dúvida, que o Espírito Santo é o princípio subjetivo de toda salvação, da regeneração, da fé, da conversão, do arrependimento, da santificação e assim por diante. Em outras palavras, que não há comunhão com o Pai e o Filho a não ser em e por meio do Espírito Santo” (Dogmática Evangélica, vol. 2, p. 319).

O Espírito age também na vida da Igreja: vivificando (Ef 2.1), promove a unidade (Ef 4.3,4) e edificando a igreja (I Co 12.7). Paulo afirma que “a manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso”. Esse fim proveitoso decorrente do exercício dos dons espirituais é a edificação da igreja, como se pode ver em Efésios 4.2: “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.

5.  A resistência ao Espírito Santo é passível de terrível juízo

Segundo o ensino de Jesus em João 14.17, o Espírito da verdade não é recebido pelo mundo. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê, nem o conhece. Segundo o apóstolo Paulo, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (I Co 2.14). Sendo assim, o homem natural resiste ao Espírito e permanece em rebelião contra Deus. Ele anda “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2). Por isso, “sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36).

Quando discursou perante o Sinédrio, antes de ser apedrejado, Estêvão as autoridades judaicas de resistência ao Espírito (At 7.51). A resistência ao Espírito pode chegar a um ponto irreversível, como ensina Jesus em Mateus 12.31 e 32. Segundo Dwight Moody, “a função particular do Espírito é a de convencer e causar arrependimento, tornando o homem receptivo ao apelo de Cristo. Assim, os corações que odeiam a Deus e blasfemam contra Cristo (I Tm 1.13) ainda podem ser convencidos e levados ao arrependimento pelo Espírito. Mas aquele que rejeita toda aproximação do Espírito afasta-se da única força que o pode levar ao perdão (Jo 3.36)” (Comentário Bíblico Moody/Mateus, vol. 2, p. 58).

Na Carta aos Hebreus, somos exortados a uma vida de santidade e obediência ao Espírito Santo (Hb 10.26-31). Sendo assim, devemos amar, obedecer e adorar o Espírito Santo. Ele nos regenera para uma nova vida em Cristo Jesus, sustenta-nos dia a dia, intercede por nós e nos introduz na glória eterna (II Co 3.17,18). “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (II Co 4.6).

Pr. Eneziel Peixoto de Andrade
eneziel@hotmail.com

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