A igreja relevante tem respostas para os dramas da sociedade.

O texto de Atos 5.12 começa dizendo que “muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo, pelas mãos dos apóstolos.” Os versículos 14 a 16, do mesmo capítulo, falam de uma multidão de pessoas carentes e aflitas, as quais encontravam na igreja esperança e resposta para os seus dramas: “eram todos curados”. A igreja viva é eficaz na sua função de comunidade terapêutica.

Dois tipos de enfermidades são mencionados no texto: enfermidades físicas (enfermos levados sobre leitos e macas); e enfermidades espirituais (atormentados de espíritos imundos). Aqueles que carregavam consigo esses dramas procuravam e encontravam na igreja cura e libertação.

É oportuno salientar, porém, que o conceito bíblico de cura e libertação é muito mais amplo do que essas vulgares e deturpadas manifestações de “cura e libertação”, tão exploradas e difundidas hoje em dia, as quais, muitas vezes, não passam de ridículas caricaturas.

No Antigo Testamento, enfermidade e opressão são vistas não apenas como problemas individuais, mas também conjunturais; não apenas problemas com consequências pessoais, mas também sociais. É por isso que o profeta Isaias, ao referir-se à nação de Israel, que estava mergulhada em pecado e infestada de males sociais, declara: “Toda a cabeça está doente e todo o coração enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas.” (Is 1.5,6).

 É por isso também que a solução para os problemas de enfermidade e opressão se estendem, de certa forma, à coletividade. Por exemplo, o Êxodo (que significa “libertação”) tem caráter nacional, e não apenas individual.

A cura da terra enferma, assegurada pelo Senhor, é de alcance conjuntural: “ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (II Cr 7.14). A abrangência do conceito bíblico de cura e libertação pode ser vista também na declaração feita por Jesus, acerca do caráter de seu ministério, conforme Lucas 4.18 e 19: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”

É preciso compreender, portanto, que cura e libertação, sejam de que ordem for, não se produzem com chavões de pretenso poder espiritual, do tipo: “eu declaro”, “tá amarrado”, ou: “sai, em nome de Jesus!” Em vez de retroceder à mentalidade medieval e ficar procurando e amarrando demônios, a igreja precisa, sim, apresentar respostas para os dramas de uma sociedade que geme e desfalece sem esperança. Mas, de que maneira a igreja fará isso?

  • Desenvolvendo sua vocação terapêutica através da promoção de saúde: física, psíquica e espiritual entre aqueles que padecem;
  • Desenvolvendo sua vocação diaconal através do socorro material aos necessitados;
  • Desenvolvendo sua vocação docente através da instrução aos ignorantes e excluídos;
  • Desenvolvendo sua vocação libertária através da promoção de ações libertadoras em todos os níveis e da dignidade do ser humano;
  • Desenvolvendo sua vocação profética através da condenação a todas as formas de injustiça e discriminação estabelecidas na sociedade.

Conforme Romanos 15.18 e 19, Paulo afirma que tornou o evangelho conhecido e levou os gentios à obediência por meio de “palavras e obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo.”

A igreja é portadora das palavras de vida. Por isso não pode negligenciar a integralidade que caracteriza sua missão, pois, do contrário, estará negando sua condição de comunidade transformadora; e, consequentemente, perderá sua relevância.

Segundo o Dr. Francis Schaeffer, “nosso cristianismo deve tornar-se verdadeiramente universal, importante para todos os segmentos da sociedade e para todas as sociedades do mundo.”

Rev. Eneziel Peixoto Andrade

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