A Reforma religiosa do Séc. XVI foi um movimento religioso que buscava um retorno aos princípios fundamentais do Evangelho. Surgiu como uma demonstração do inconformismo ante a degeneração que havia tomado conta da Igreja. O desejo dos reformadores era restaurar a pureza do Cristianismo primitivo, com base nos ensinamentos da Escritura. Segundo David S. Schaff, a Reforma foi “um protesto contra os males doutrinários e práticos da Igreja. Foi um regresso aos preceitos do Cristianismo original” (Nossa Crença e a de Nossos Pais, Imprensa Metodista).

Entre tantos nomes que se empenharam na causa reformista, dois deles merecem especial menção, a saber, Martinho Lutero e João Calvino.

Martinho Lutero

No limiar do século XVI entrou em cena Martinho Lutero (1483 –1546). Lutero nasceu em Eisleben, Alemanha, onde seu pai trabalhava no ramo da mineração. Recebeu o grau de bacharel em 1502 e o de mestre em 1505. Em seguida, iniciou os estudos de Direito, mas, no mesmo ano de 1505, fez o voto de tornar-se monge. Em 1512 completou os seus estudos, conquistando o grau de doutor em Teologia. No mesmo ano recebeu uma nomeação permanente para a cátedra de ensinos bíblicos na Universidade de Wittenberg.

Durante todo esse tempo, uma questão inquietava Lutero: a justificação diante de Deus. Ele passou por intensas lutas espirituais enquanto procurava merecer a sua própria salvação através da observância cuidadosa da regra monástica, a confissão constante e a mortificação de si mesmo. Porém, por volta de 1518, fez sua maior descoberta teológica: a compreensão e a experiência da justificação pela fé.

Em Wittenberg, onde atuava, Lutero começou a apresentar suas ideias reformistas. Em 31 de outubro de 1517, ele afixou nas portas da Igreja de Wittenberg suas 95 teses contra as indulgências. As indulgências eram títulos vendidos pela Igreja, os quais, supostamente, garantiam o perdão dos pecados e a salvação. Esses títulos podiam ser comprados, inclusive, em favor de pessoas que já tinham morrido.

Devido ao seu posicionamento firme e contundente, rapidamente Lutero transformou-se no estopim da Reforma. Em 1518, Roma abriu um processo contra ele por heresia. Dois anos mais tarde, o papa Leão X ameaçou puni-lo, caso não revogasse suas teses.

Em dezembro de 1520, Lutero queimou em praça pública a bula papal, em protesto, além de um livro de leis católicas e várias obras de seus opositores. Assim, Lutero rompia definitiva e irreversivelmente com Roma. Quando Leão X ficou sabendo do escandaloso espetáculo de incineração, não hesitou: em 3 de janeiro de 1521, lançou sobre o reformador a maldição da excomunhão.

O pregador das indulgências, Tetzel, pediu a fogueira para Lutero. Entretanto, alguns príncipes alemães se colocaram do lado dele. Eles criam que através de Lutero seria possível limitar o poder de Roma. Esses príncipes convenceram o imperador a convidar Lutero para ir à corte, em Worms.

Em abril de 1521, Lutero pôs-se a caminho e, ao contrário do que desejaria a Igreja, foi recebido com entusiasmo durante todo o trajeto. Pregou em Erfurt, Gotha e Eisenach, antes de ser celebrado pelos habitantes de Worms.

Lá na assembleia de Worms, no dia 17 de abril de 1521, instado com ameaças a retratar-se de suas ideias e posições, Lutero declarou solenemente: “É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de Concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contraditado uns aos outros. Minha consciência está cativa da Palavra de Deus; e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim Deus me ajude. Amém”.

Após deixar Worms, Lutero estava protegido por um salvo-conduto que o resguardaria de ser imediatamente preso. Porém, o imperador o declarou fora da lei e, portanto, exposto ao cárcere e à destruição de seus escritos. Durante a viagem de volta, o príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio, mandou sequestrá-lo e o escondeu no castelo de Wartburg, na Alemanha. Enquanto lá permaneceu, pôs-se a traduzir a Bíblia para o alemão. Assim, Lutero escapou do tribunal da Inquisição.

Através da obra À Nobreza Cristã Alemã, Lutero convocou o povo alemão a unir-se contra Roma. A Reforma estava, portanto, deflagrada e não tinha mais como ser contida. Novos líderes foram surgindo, os quais deram grande ímpeto ao movimento reformista.

A doutrina da Justificação pela Fé, embora seja fundamental na teologia de Lutero, na verdade, não é a totalidade de sua teologia. A sua teologia enfatiza, por exemplo:

·    A supremacia da Bíblia;

·    A doutrina da cruz;

·    A relação Lei e Evangelho;

·    Os Sacramentos (Batismo e Santa Ceia);

·    A teologia dos dois reinos (o Estado e a Igreja).

Lutero “era indubitavelmente sincero até à paixão e frequentemente vulgar nas suas expressões. Sua fé era profunda e nada lhe importava tanto, como ela. Quando se convencia de que Deus queria que tomasse certo caminho, o seguia até às últimas consequências, e não como alguém que, pondo a mão no arado, olha para trás. Seu uso da linguagem, tanto o latim como o alemão era magistral… Uma vez convencido da verdade da sua causa, estava disposto a enfrentar os mais poderosos senhores do seu tempo. Porém, essa mesma profundidade de convicção, essa paixão, essa tendência ao exagero, o levaram a tomar atitudes que depois ele e seus seguidores tiveram de deplorar. Ao estudar a vida de Lutero e sua obra, uma coisa fica bem clara: é que a tão esperada reforma se produziu, não porque Lutero ou outra pessoa se havia proposto a isso, mas porque ele chegou no momento oportuno e porque nesse momento o Reformador, e muitos outros junto dele, estiveram dispostos a cumprir sua responsabilidade histórica” (Justo L. Gonzalez em A Era dos Reformadores, Vida Nova).

Pr. Eneziel P. Andrade
eneziel@hotmail.com

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