Na primeira Carta escrita aos Coríntios (11.17-34), o apóstolo Paulo apresenta orientações sobre o privilégio de participar da Ceia do Senhor e faz importantes advertências quanto a problemas que podem atrapalhar a nossa participação.
Um dos mais solenes e significativos atos da liturgia cristã é, sem dúvida, a celebração do sacramento da Ceia.

Entre os coríntios, a participação na Ceia estava sendo deturpada, trazendo sérios prejuízos para a igreja.

O apóstolo censurou com veemência os coríntios, pois o ajuntamento dos crentes naquela comunidade, para a participação na Ceia do Senhor, estava sendo prejudicado por divisões, partidarismo, egoísmo e desconsideração: Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio. Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio. Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague (I Co 11.18-21).

Paulo ataca alguns problemas, os quais descaracterizam completamente a Ceia do Senhor, a saber:

1. O problema da carnalidade

A carnalidade verificada em Corinto gerava constrangimento; e estava completamente em desacordo com o espírito e proposta do sacramento da Ceia. Anteriormente, no cap. 3, Paulo já havia dito: Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. (…) Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? (I Co 3.1,3).

A Ceia deve ser uma festa de fraternidade e alegria; mas, em Corinto, não estava sendo devido à carnalidade de alguns. Por isso, Paulo toca diretamente na questão, dizendo: Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais, não para melhor e, sim, para pior. (…) Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. (…) Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto certamente não vos louvo (I Co 11.17, 20,22).

O comportamento carnal dos coríntios estava desprezando a igreja e profanando o sacramento. Diante disso, somos desafiados a remover do coração todo sentimento de carnalidade, como uma das condições para a participação na Ceia do Senhor.

2. O problema da individualidade

Antes de apresentar qualquer orientação teológica sobre a Ceia, Paulo mostra a necessidade de se corrigir as dissensões e a desconsideração para com os irmãos. É preciso entender que, muito mais do que uma aprofundada compreensão teológica, a participação na Ceia d Senhor requer humildade, companheirismo, amor ao próximo, unidade. A participação na Ceia é uma experiência comunitária, e não apenas pessoal.

Em Corinto, alguns irmãos estavam evitando os outros. Porém, a individualidade não combina coma Ceia. É por isso que Paulo diz: Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros (I Co 11.33).

A fraternidade é fundamental para a efetivação da unidade implícita no sacramento da Ceia, como escreve Paulo em I Coríntios 10.17: Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.

O apóstolo Pedro também faz importante recomendação nesse sentido: sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança (I Pe 3.8-9).

O bom convívio fraternalmente é também umas condições para a participação na Ceia do Senhor.

3. O problema da formalidade

A formalidade e o acentuado individualismo na participação da Ceia podem tomar o lugar da espontaneidade e do espírito comunitário caloroso e fraterno. Portanto, é preciso resgatar o aspecto solidário e festivo que caracteriza a Ceia do Senhor como a santa comunhão, a refeição denominada no Novo Testamento “festa do amor”.

Seguindo o exemplo dos primeiros cristãos, devemos fazer do sacramento da Ceia uma autêntica festa de amor, de solidariedade, do partir do pão, de gratidão, de comunhão com Deus e de comunhão uns com os outros.

Espiritualidade, fraternidade, espontaneidade e sinceridade devem ser marcas evidentes dessa festa do povo de Deus. Os primeiros cristãos tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração (At 2.46).

Sendo assim, devemos eliminar de entre nós, todo problema porventura existente, que possa descaracterizar a Ceia do Senhor, pois, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor (I Co 11.27).

No próximo domingo, se Deus quiser, estaremos mais uma vez reunidos em torno da mesa do Senhor. Examine-se e prepare-se devidamente para participar da Ceia do Senhor.

Pr. Eneziel P. Andrade
eneziel@hotmail.com

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