Em Filipenses 1.27, Paulo escreve: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica”.

O que significa “viver por modo digno no evangelho de Cristo”? Isso fica bem claro nesse primeiro capítulo da Carta, conforme explanado a seguir:

1) Devemos viver a vida cristã visando, acima de tudo, a glória de Deus (vv.3-11)
Nós fomos criados para o louvor da glória de Deus! A obra de redenção em nós começada há de se completar até ao Dia de Cristo Jesus, para a glória de Deus, como afirma Paulo em Romanos 8.28 e 29.
Na condição de eleitos de Deus, remidos por Cristo, somos chamados a viver para a glória de Deus em tudo quanto fazemos (vv.9-11). Tudo deve ser feito “para a glória e louvor de Deus”.
Viver por modo digno do evangelho de Cristo, significa viver a vida cristã visando, acima de tudo, a glória de Deus. Isso é resumido na nossa sublime e conhecida frase: “Soli Deo Gloria”!

2) O que importa é que Cristo seja engrandecido em nós, quer pela vida, quer pela morte (vv.12-20)
É importante observar que Paulo não lamenta sua condição de prisioneiro; pelo contrário, interpreta as suas provações como oportunidades singulares para o fortalecimento do evangelho e o engrandecimento de Cristo. Prestemos atenção na análise que ele faz:
• v.12: as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho;
• v.13: as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais;
• v.14: a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.
Ele deixa bem claro que o que importa é que Cristo seja engrandecido. Antes, conforme o relato de Atos 20.22 a 24, ele já havia dito aos presbíteros de Éfeso: “E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e
tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.
O que importa é que Cristo seja engrandecido! É como já havia reconhecido e afirmado, anteriormente, João Batista: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
Nestes dias de tanta arrogância, orgulho e altivez, em que tantos querem assumir o protagonismo e brilhar, devemos reconhecer que viver por modo digo do evangelho de Cristo, implica reconhecer que o que importa é que Cristo seja engrandecido em nós, quer pela vida, quer pela morte.
Todos nós somos desafiados a alcançar o estágio de maturidade espiritual em que nos sintamos aptos a declarar: “Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” Gl 2.19,20).
Precisamos tomar cuidado para não roubarmos a cena! Isso pode acontecer até mesmo quando exacerbamos nas práticas devocionais, no zelo doutrinário, na maneira de proclamar o evangelho. Nenhum de nós foi chamado a ser um superstar da fé. O protagonismo é de Cristo! A glória é de Cristo!
Como afirma Joel Beeke, “A centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia” — isso significa que quem ele é e o que ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura.
Ulrich Zwingli disse: ‘Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem ele, o corpo está morto’”.
Solus Christus”! Viver por modo digno do evangelho de Cristo implica reconhecer que o que importa é que Cristo seja engrandecido em nós, quer pela vida, quer pela morte.

3) A expectativa da glória porvir não pode diminuir nosso ímpeto ministerial (vv.21-26)
Estar com Cristo e desfrutar as delícias da glória celeste é a aspiração de todo cristão. Não podemos, jamais, deixar essa expectativa arrefecer. Paulo via a possibilidade de sua partida para estar com Cristo como algo lucrativo e incomparavelmente melhor. Contudo, tinha consciência de que havia ainda trabalho para realizar; a igreja precisava dele: “por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé, a fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo, convosco”.
Isso significa que todos nós devemos ter consciência do nosso chamado, da nossa missão, do que o Senhor deseja realizar no seu reino por nosso intermédio.
Não podemos, simplesmente, ficar aguardando o tempo da nossa partida, tornando-nos servos negligentes enquanto aqui estivermos. Fica claro nas palavras do apóstolo que devemos ser instrumentos de bênção no processo de edificação da igreja, servindo conforme os dons recebidos do Espírito para promover entre os nossos irmãos o progresso e gozo da fé.
Viver por modo digno do evangelho de Cristo envolve não apenas crer e professar a fé de maneira correta, mas, também servir no reino de Deus.
Sobre isso, orienta-nos o apóstolo Pedro: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém”! (I Pe 4.10,11).

4) Devemos preservar a unidade, a fidelidade e o testemunho (vv.27-30)
A unidade cristã é uma clara evidência de que estamos vivendo de modo digno do evangelho de Cristo. O contrário disso é uma desonra ao evangelho. Os coríntios foram exortados por Paulo a buscar a unidade cristã (I Co 1.10-13). Devemos ser criteriosos e zelosos no exercício da nossa fé; mas devemos tomar cuidado para não idolatrarmos teólogos e líderes cristãos, mesmo os melhores deles. O esforço pela preservação da unidade passa pelo que Paulo escreve em Efésios 4.1-6.
Diante das ameaças dos adversários, o cristão não tem nada a perder. Jesus disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mt 10.28). Em meio às perseguições, a fidelidade a Cristo é confirmada. Este é o desafio posto diante de nós: “Sê fiel até à morte”! (Ap 2.10).
O testemunho cristão envolve não só crer e falar de Cristo, mas, antes de tudo, a possiblidade de sofrer por causa do nome de Cristo. O testemunho cristão tem a ver com sofrimento. Mas o sofrimento por causa de Cristo é um sinal da nossa união com ele (Jo 15.18,19).

Que o Espírito nos habilite mais e mais a vivermos por modo digno do evangelho de Cristo! Amém!

Pr. Eneziel P. Andrade

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