Leia I Pedro 1.22 a 25

A primeira Carta de Pedro foi dirigida, primariamente, aos judeus cristãos da Dispersão, que viviam na Ásia Menor. As palavras desta Carta são explicitamente dirigidas aos eleitos de Deus, chamados à santificação e à obediência.

Segundo Gerard Barth, “a epístola quer ser uma carta de consolo e exortação. Face à perseguição, calúnia e sofrimento, os leitores devem permanecer firmes na fé, na esperança da salvação futura e no procedimento correto” (Primeira Epístola de Pedro, Sinodal, p.9).

O texto lido fala sobre amor fraternal como prova da purificação da alma e da obediência à verdade. Os redimidos por Cristo devem se distinguir na prática do amor fraternal. Nas Sagradas Escrituras, encontramos inúmeras exortações concernentes à prática do amor fraternal.

No texto de I Pedro 1.22 a 25, o apóstolo nos apresenta alguns pressupostos para a prática do amor fraternal, a saber:

1. A pureza de alma

O autor começa dizendo: “Tendo purificado a vossa alma…”; depois completa: “…amai-vos de coração, uns aos outros, ardentemente”.

A experiência da salvação inclui a purificação da alma, em decorrência da ação regeneradora do Espírito Santo, que lava e purifica de todo pecado. Na Carta escrita a Tito, Paulo fala sobre “o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.5,6).

Os cristãos podem amar-se mutuamente porque foram regenerados; suas almas foram submetidas a um processo de lavagem e purificação espiritual, operado pelo Espírito Santo, pela virtude do precioso sangue de Cristo.

A pessoa verdadeiramente regenerada da semente incorruptível tem pureza de alma e é capaz de amar. A pureza de alma acontece na medida em que o Espírito Santo vai tomando conta da pessoa. Segundo a Bíblia, o fruto do Espírito é o amor.

A pureza de alma é condição não apenas para exercitarmos o amor, mas contemplarmos a glória de Deus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Disse Jesus: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8).

2. A obediência à verdade

Versículo 22: “Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente”.

A “verdade” referida por Pedro é o evangelho. O evangelho é o instrumento utilizado pelo Espírito Santo para purificar nossa alma e nos habilitar a amar. É precisamente isso que Jesus diz em João 17.17, na Oração Sacerdotal: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”.

É mediante o evangelho que a verdade divina é trazida aos homens; e é pelo evangelho que somos ensinados sobre como viver a vida cristã corretamente. O evangelho impõe exigências que precisam ser satisfeitas, conforme ensina Jesus em Mateus 5.43-48.

Quem não segue o evangelho, sempre encontrará muitas razões para se recusar a amar e a perdoar. Porém, quando nos dispomos a obedecer à verdade do evangelho, encontramos força para amar, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras. O evangelho remove do nosso coração o ódio, a antipatia, a indiferença e os ressentimentos. Nossos sentimentos, pensamentos, razões e argumentos devem subordinar-se às exigências do evangelho.

3. A sinceridade de coração

Versículo 22: “…tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros, ardentemente”.

Com muita sensibilidade, a poetisa Sara P. Kalley escreveu:

“Com suspeitas não se alcança vero amor;

Onde houver desconfiança, ai do amor!

Pois mostremos lealdade,

Combatendo a falsidade que destrói este amor”.

O amor fingido é algo extremamente doloroso e desapontador, pois consiste em hipocrisia. “Hipocrisia” é o mesmo que impostura, fingimento, simulação, falsidade. Tais atitudes são incompatíveis com a vida cristã; e não podem existir no seio da comunidade.

É por isso que o apóstolo Paulo exorta, conforme Romanos 12.9: “O amor seja sem hipocrisia”. O apóstolo João também exorta: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (I Jo 3.18).

Portanto, a sinceridade de coração é condição indispensável para a prática do amor fraternal; e, segundo a Bíblia, o amor fraternal não é uma opção, mas um dever cristão.

Em Romanos 13.8 a 10 a Palavra de Deus determina: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.8-10).

Escrevendo aos hebreus, o escritor sagrado foi objetivo e direto em sua exortação: “Seja constante o amor fraternal” (Hb 13.1).

Em I Coríntios 13 aprendemos que, fora do caminho sobremodo excelente do amor, tudo se torna vão e sem sentido. Se não tivermos amor, nada do que fizermos terá valor… seja a devoção, a busca pelo conhecimento, as boas obras… nada aproveitará.

O verdadeiro amor é fruto de um coração sincero. Devemos aprender com o salmista, que dizia: “Atentarei sabiamente ao caminho da perfeição. Oh! Quando virás ter comigo? Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero. Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará. Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal” (Sl 101.2-4).

G. Barth faz uma importante observação: “Se os cristãos se chamam de irmãos, isso não pode ocorrer só formalmente, mas deve evidenciar-se em amor fraternal sem hipocrisia. A exortação ao amor fraternal é uma parte do mandamento de amor mais extenso de Jesus e da comunidade primitiva, naturalmente uma parte, na qual o mandamento ao amor se torna especialmente atual e deve ser comprovado. Falar de amor ao inimigo ou aos homens é ilusão, se não falarmos do amor no círculo mais íntimo da irmandade” (op. cit., p. 46).

“Tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros, ardentemente”!

Rev. Eneziel Peixoto de Andrade
eneziel@hotmail.com

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