O CHAMADO À ADORAÇÃO E AO SERVIÇO

O Salmo 100, tão conhecido, era um hino de ingresso ao templo, em Jerusalém. O motivo do louvor era o reconhecimento de que o Senhor é o Único Deus Vivo e Verdadeiro. Ele criou o povo e dele cuida. A bondade de Deus se confirma no fato de que ele se alia ao seu povo, mantendo para sempre o seu amor fiel.

Esse Salmo deixa transparecer com clareza, algo que nem sempre é compreendido: a estreita relação existente entre adoração e serviço. Adoração e serviço são atitudes religiosas coexistentes e inseparáveis.

A ordem “servi ao Senhor” tem o seu paralelo em: “apresentai-vos diante dele”. Isso nos faz lembrar que um ato de adoração mui corretamente é chamado de “serviço” ou “trabalho”. Apresentar-se diante do Senhor implica, necessariamente, em servi-lo. Allan H. Ferry afirma que “alguns trabalham sem se preocupar em adorar a Deus; outros o adoram sem trabalhar. Porém, o cristão autêntico tanto adora como trabalha”.

Na expressão bíblica “servi ao Senhor com alegria” podemos enumerar três importantes aspectos que devem orientar nossa vida de devoção e serviço a Deus

  • O serviço a Deus é uma demonstração de obediência

O Salmo 100 está estruturado no modo imperativo: “celebrai”, “servi”, “apresentai-vos”, “sabei”, “entrai”, “rendei-lhe”, “bendizei”. Na Aliança estabelecida por Deus com o povo de Israel, está evidente a exigência do serviço como demonstração de obediência, como se pode ver em Deuteronômio 10.12 e 12. A obediência é sinal de fidelidade ao Senhor. Uma das últimas ações de Josué foi uma exortação solene para que o povo renovasse o compromisso de obedecer a Deus de todo o coração (Js 24.14,15). Após tomar consciência de seus atos de infidelidade e se livrarem de tudo o que estava corrompendo os seus corações, disse o povo a Josué: “Ao Senhor, nosso Deus, serviremos e obedeceremos à sua voz” (Js 24.24-27).

Nas páginas do Novo Testamento, o cristão é chamado de “servo” do Senhor. São inúmeras as passagens bíblicas que ensinam isso. Jesus se apresentou como o servo obediente e desafiou seus discípulos a servir (Jo 12.26). Em Romanos 12.11, Paulo recomenda: “sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”. Em Colossenses 3.23 e 24 a Palavra nos orienta: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”.

Hoje temos oportunidade de servir ao Senhor; e o destino dos redimidos é servir a Deus, como afirma João em Apocalipse 22.3 e 4: “Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele”. É a nossa vida de serviço que confirma o grau de comprometimento da fé que professamos. É a vida de serviço que confirma a sinceridade da nossa adoração e a nossa disposição para obedecer a Deus.

 

  • O serviço a Deus deve ser realizado com alegria

O salmista nos conclama não apenas a servir ao Senhor: ele nos chama a servir ao Senhor “com alegria”. O serviço a Deus deve ser motivo de alegria. Somos chamados a servir a Deus com espontaneidade e alegria, e não por obrigação ou constrangimento. Há muitas coisas que podem perturbar a alegria que deve caracterizar nossa relação com Deus, com o seu Reino e com a comunidade de fé em que temos o privilégio de servir dia a dia. A partir das cartas do Novo Testamento é possível perceber que, frequentemente, a alegria cristã é prejudicada. Ora pelas perseguições que vinham de fora, ora por disputas internas envolvendo questões teológicas, relacionamento, usos e costumes. Opiniões sobre comida e bebida, por exemplo, geravam constrangimentos e prejudicavam o bom andamento da obra do Senhor. Na carta aos Romanos (Rm 14.17,18), Paulo trata dessa questão e orienta: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens”.

A obra de Deus deve ser sempre realizada com alegria. Temos muitas razões para realizarmos a obra do Senhor com alegria no coração. Escrevendo aos filipenses, Paulo falou sobre a sua alegria por estar envolvido na obra do Senhor e desafiou a igreja a se alegrar também (Fp 2.14-18). A igreja precisa caminhar com alegria, pois, como disse Neemias, “a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.8-12). Em tempos normais, essa alegria deve caracterizar a caminhada da igreja. Mesmo que, em alguns momentos da caminhada tenhamos de chorar, a alegria haverá de prevalecer (Sl 126.5,60).

 

  • O serviço a Deus deve contar com a participação de todos

Ao compor o Salmo na segunda pessoa do plural, o salmista tinha em mente não apenas uma questão gramatical: certamente, muito mais a ideia de que o serviço a Deus deve contar com a participação de todos.

A utilização desse Salmo, no passado, era própria para ocasiões em que o povo estava reunido. Era um hino de ingresso ao templo. Segundo o salmista, somos “povo”, “rebanho”. Não caminhamos sozinhos, não servimos a Deus isoladamente, estamos juntos nessa empreitada. A ideia de comunidade é enfatizada no verso 3: “foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio”.

Na igreja, cada um tem a sua vocação, isto é, o seu dom e chamado; e cada um é importante para a edificação do Corpo (Fp 1.27). Somos o exército de Deus e precisamos lutar juntos! Compreendendo isso, devemos nos unir mais e mais na realização da obra do Senhor. “Celebrai com júbilo ao Senhor! Servi ao Senhor com alegria”!

Pr. Eneziel Peixoto de Andrade

eneziel@hotmail.com

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