Mais uma vez, o Brasil chora os seus mortos. Mortos que morreram não de morte natural, mas de morte provocada, prematura, previsível, evitável.
A tragédia que se repete em Petrópolis, e que todos os anos ocorre também em outras partes do país, não é obra do acaso nem a manifestação irada de um Deus que quer matar jovens, idosos e crianças. Na verdade, é o resultado de anos de descuidos envolvendo falta de planejamento urbano, má alocação de recursos públicos e a normalização das desigualdades.
A ocupação de áreas de risco, propensas a inundação e suscetíveis a deslizamentos, muitas vezes se dá de forma irregular, perante as “vistas grossas” do poder público; e, em alguns casos, é até mesmo por ele patrocinada. A destinação e aplicação de recursos públicos em infraestrutura e prevenção de desastres, geralmente ficam muito aquém das reais necessidades.
No caso de Petrópolis, “levantamento feito pelo UOL no Portal da Transparência do município mostra que foram empenhados – ou seja, reservados para pagamento, mas não necessariamente investido –, em 2021, R$ 2,107 milhões em obras de prevenção de queda de barreiras. Somados, os recursos para propaganda (R$ 4,426 milhões) e a iluminação de fim de ano (R$ 1,105 milhão) foram, por sua vez, de R$ 5,531 milhões, mais que o dobro” (Fonte: UOL Notícias).
O problema crônico das desigualdades em nosso país – intencionalmente criadas e perpetuadas – mantém um enorme contingente de pessoas em situação de vulnerabilidade, que não têm muita escolha, ou nenhuma escolha, e acabam se tornando as primeiras vítimas de todo tipo de anormalidade.
Alguns analistas têm falado muito sobre a necessidade urgente de uma reforma urbana no Brasil. De fato, essa é uma questão que deve ser colocada diante dos nossos governantes. Não é mais aceitável convivermos com a reedição de tragédias desse tipo, ano após ano. Devido à dimensão dessa demanda e o seu elevado custo, é certo que sempre haverá má vontade política para encarar o problema e implementar ações preventivas que ofereçam solução ou, pelo menos, reduzam os efeitos dos desastres. Enquanto for mantida a política de apenas correr atrás do prejuízo, continuaremos arcando com muito dinheiro público sendo levado pelas enxurradas e corpos indefesos sendo soterrados.
O Brasil está de luto! É tempo de chorar, de orar, de solidarizar. É tempo de nos humilharmos perante o Senhor, clamando noite e dia, pois, só Ele pode nos dar alento. Não devemos nos queixar do Senhor, pois, o próprio homem, devido à sua ambição e descaso para com o semelhante, tem criado o ambiente para que os fracos da terra pereçam.
As palavras de lamento do profeta Jeremias devem ser trazidas à tona, neste momento de angústia, para que avaliemos nossa caminhada como sociedade e nos voltemos para o Senhor, esperando inteiramente nele:
“Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.
Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor.
Levantemos o coração, juntamente com as mãos, para Deus nos céus, dizendo:
Nós prevaricamos e fomos rebeldes, e tu não nos perdoaste.
Cobriste-nos de ira e nos perseguiste; e sem piedade nos mataste.
De nuvens te encobriste para que não passe a nossa oração.
Como cisco e refugo nos puseste no meio dos povos.
Todos os nossos inimigos abriram contra nós a boca.
Sobre nós vieram o temor e a cova, a assolação e a ruína.
Dos meus olhos se derramam torrentes de águas, por causa da destruição da filha do meu povo.
Os meus olhos choram, não cessam, e não há descanso, até que o Senhor atenda e veja lá do céu” (Lamentações 3.39-50).
É somente através da conversão, isto é, a volta para Deus, que é possível restabelecer a harmonia do homem com o Criador, com o próximo e com a natureza.
Pr. Eneziel P. Andrade
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