Leia o Salmo 39

Este ano 2020 está sendo traumático! Iniciamos com a situação de calamidade pública em diversas cidades do país, devido às chuvas que provocaram alagamentos, deslizamentos e grande destruição. Depois, a partir de março, começamos a sofrer os impactos da pandemia do novo coronavírus, que afetou o mundo inteiro.

No Brasil, mais de 5 milhões de pessoas já foram infetadas. Caminhamos para 150 mil mortes. No mundo, conforme divulgado na semana passada, já chega a 1 milhão de mortos.

O problema ainda não acabou; e não sabemos até quando irá persistir. As notícias sobre a criação da vacina são animadoras, mas ainda não é possível saber quando é que toda a população poderá ser vacinada.

Os prejuízos deixados pela pandemia incluem: perda de vidas, falência de milhares de empresas, desemprego em massa e, para muitos, a perda da esperança.

O tempo atual nos chama à reflexão. Há alguns conceitos que precisam ser revisitados para que, confrontados com as misérias deste mundo, encontremos em Deus e na sua Palavra alento para continuarmos a caminhada. Tomando por base o Salmo 39, somos chamados a uma oportuna reflexão sobre alguns desses antigos conceitos, os quais não podem ser esquecidos. Com os pés no chão e os olhos elevados para o alto, com certeza, teremos um novo alento para prosseguir. Vejamos então:

1. A fragilidade humana

No verso 4, diz o salmista: “Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade”.

Essa pandemia nos obriga, mais uma vez, a reconhecer que nada somos. Como escreveu Martinho Lutero, “a força do homem nada faz, sozinho está perdido”. As nações se gabam de seu poderio bélico, de sua capacidade tecnológica e científica, mas foram humilhadas por um vírus tão pequeno que não pode ser visto a olho nu. Aí, percebemos então que somos mais vulneráveis do que podemos imaginar.

A Bíblia adverte: “Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar” (Sl 103.15,16). Segundo o salmista, “acabam-se os nossos anos como um breve pensamento” (Sl 90.9). De fato, nestes poucos meses, acabaram-se para quase 150 mil brasileiros vencidos pelo vírus. Tiago pergunta: “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.14).

O salmista tinha consciência de sua fragilidade; por isso disse: “Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade. Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará” (vv. 4-6).

Devemos reconhecer que somos pobres mortais, não temos o controle das coisas. No mesmo instante em que tudo está bem, podemos ser surpreendidos por alguma adversidade.

Devemos, portanto, nos humilhar diante do Todo-Poderoso, amar uns aos outros e clamar ao Senhor, como fez o salmista: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” (Sl 40.17).

Só o Senhor pode cuidar de nós e nos livrar, não apenas de uma pandemia mortal, mas do juízo vindouro, que será muito pior. É por isso que Jesus nos tranquiliza, dizendo: “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino (…) Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Lc 12.32, 40). Sem Jesus, a nossa fragilidade se confirma como algo irremediável.

2. A realidade do sofrimento

Nos versos 8 a 11, o salmista suplica: “Livra-me de todas as minhas iniquidades; não me faças o opróbrio do insensato. Emudeço, não abro os lábios porque tu fizeste isso. Tira de sobre mim o teu flagelo; pelo golpe de tua mão, estou consumido. Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso. Com efeito, todo homem é pura vaidade”.

O sofrimento humano é uma realidade decorrente do pecado; e afeta todas as pessoas. A entrada do pecado no mundo perverteu a ordem santa estabelecida por Deus e desencadeou toda sorte de sofrimentos, desembocando na tragédia da morte. Isso não significa que esse 1 milhão de pessoas vitimadas pela Covid-19, no mundo, sejam mais pecadores do que nós que temos escapado. Na verdade, todas as tragédias que acontecem no mundo são consequência do pecado instalado na raça humana.

O sofrimento ocupa lugar considerável nas Escrituras. Desde Caim até Jó, desde o Gólgota até às visões do Apocalipse, há poucas páginas na Bíblia que não tocam de perto ou de longe essa dura realidade da existência humana. (A. Amsler, em Vocabulário Bíblico, p. 404). Nenhum de nós está livre de passar por sofrimentos neste mundo. Jesus nos previne, dizendo: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo” (Jo 16.33).

Não podemos ignorar a realidade dos sofrimentos, supondo que a vida cristã seja uma experiência só de vitórias e alegria. Em um de nossos hinos, falamos sobre a “aflição”, “os espinhos”, a “cruz”, o “sofrimento” e a “lágrima vertida”.

Segundo C. S. Lewis, “O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”. Em meio aos sofrimentos da vida, reconhecemos que há um Deus que intervém e socorre.

Em sua inquietação existencial, o salmista encontrou a resposta que é a saída para o desespero humano diante da realidade dos sofrimentos: “E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança” (v.8).

3. É pela graça de Deus que sobrevivemos às ameaças desta vida

No verso 7, o salmista faz uma pergunta e responde: “E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança”.

O Salmo 124 descreve bem a manifestação da graça divina que nos provê livramento. O Senhor nos livra não só de um vírus, mas de inúmeras outras ameaças. Aliás, nem mesmo a morte tem domínio sobre aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 6.8,9). Os que pertencem ao Senhor têm a sua condição garantida (Jo 6.39,40).

A pandemia tem deixado um rastro de morte por onde tem passado. Irmãos nossos tiveram suas vidas ceifadas. Contudo, sejam quais forem as circunstâncias, os que pertencem a Cristo já venceram a morte (Ap 20.6). Os que pertencem a Cristo nasceram duas vezes e só morrem uma vez; já os incrédulos, nasceram uma vez e, mesmo escapando dessa pandemia, morrerão duas vezes: a morte física e a morte espiritual – isso, se não se converterem a Cristo enquanto é tempo.

Com Cristo, enfrentamos as ameaças da morte e vencemos, pois, como diz Paulo, “em todas essas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37,38).

A pandemia ainda não acabou; devemos, portanto, tomar todos os cuidados, pensando não só em nós, mas também no próximo. Porém, seja em decorrência dessa pandemia, ou por outras causas, todos nós, um dia, morreremos. Entretanto, o mais importante é sentir-se alentado por esta estupenda verdade bíblica: “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos” (Rm 14.7-9).

Louvado seja Deus! Vamos em frente, sempre alentados pelo Senhor e sua Palavra!

Pr. Eneziel Peixoto de Andrade
eneziel@hotmail.com

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