Durante o período que antecedeu a Reforma Protestante, a Escritura estava “escondida”. O povo não tinha acesso a ela; nem mesmo os sacerdotes lidavam com a Escritura. Ela estava circunscrita a um círculo restrito de teólogos e, além disso, estava subjugada à tradição desenvolvida pela Igreja ao longo dos anos, resultante das decisões conciliares e dos decretos papais.

A Reforma Protestante significou uma redescoberta da Palavra de Deus, tal qual ocorreu nos dias do rei Josias, quando o Livro da Lei do Senhor foi encontrado no templo. Os reformadores popularizam a Bíblia, traduzindo-a na língua falada pelo povo e ensinando-a sistematicamente. O advento da imprensa favoreceu a proliferação de cópias da Bíblia e dos catecismos para a instrução do povo.

A Escritura foi libertada da interpretação limitada e condicionada aos interesses da Igreja. Os reformadores incentivaram o livre exame da Escritura, sob a iluminação do Espírito Santo, por entenderem que Deus fala a todos os que, de forma sincera e submissa, abrem o coração para receber a sua Palavra. Porém, é inegável que o livre exame da Escritura traz consigo um efeito colateral danoso: a ideia equivocada de que qualquer um pode ler e interpretar a Bíblia como bem entender, desprezando princípios e regras de interpretação. Na prática, infelizmente, isso acontece em larga escala; e é tão prejudicial quanto o monopólio outrora exercido pela Igreja.

O livre exame da Escritura deve se dar de forma criteriosa, com temor, cuidado e zelo, especialmente por aqueles que optam por ensinar (I Tm 4.16; II Tm 2.15; Tt 2.1).

Essa Escritura a que todos têm acesso deve ser adotada como única regra de fé e prática. O artigo 7º da Confissão Belga define bem o que significa ter a Bíblia como única regra de fé e prática: “Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos ‘ou um anjo vindo do céu’, conforme diz o apóstolo Paulo (Gl 1.8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura. É proibido ‘acrescentar algo a Palavra de Deus ou tirar algo dela’ (Dt 12.32; Ap 22.18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa. Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Sl 116.11) e ‘mais leves que a vaidade’ (Sl 62.9). Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível, conforme os apóstolos nos ensinaram: ‘Provai os espíritos se procedem de Deus’ (1 Jo 4.1), e: ‘Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa’ (2 Jo v.10)”.

Crer nas Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática é submeter incondicionalmente a elas a mente e os sentimentos, a fim de que todas as ações sejam por ela determinadas. Não se trata simplesmente de uma afirmação de fé, mas de um compromisso de vida.

Pr. Eneziel P. Andrade
eneziel@hotmail.com

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